O conceito que Paulo ensina sobre a igreja

Desejamos que cada leitor, cada cristão sincero, cada alma que hoje está procurando o Senhor possa encontrar uma irmandade cristã na qual possa participar da comunhão e do testemunho de tal assembleia, a ekklesia, a igreja de Cristo, e assim, fazer parte sua “luz de justiça” neste mundo escuro.

O apóstolo Paulo deixou uma séria responsabilidade aos anciãos de Éfeso: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20:28). Com essas palavras, Paulo nos dá a conhecer a posição alta e sublime da igreja de Cristo.

Com base neste versículo, vamos notar alguns pontos-chave para entender qual era o conceito de Paulo sobre a igreja:

É a igreja do Senhor

Paulo usou essa expressão varias vezes em diferentes trechos das Escrituras. Quando diz “a igreja de Deus (ou de Cristo)”, nos diz que a igreja foi instituída por Deus e pertence a ele. Na verdade, a igreja é “a menina dos olhos” de Deus, algo muito especial.

É uma assembleia local

Exerce a sua administração, a sua esfera de influência e seu testemunho por meio das ovelhas (membros) comprometidas e identificadas como parte de um grupo local.

É uma igreja preciosa

Cristo pagou com o seu próprio sangue a redenção da igreja. Para Ele, é gloriosa, sem mancha, nem ruga, santa e pura (leia Efésios 5:27).

Está sob o cuidado dos servos escolhidos pelo Espírito Santo

Esses servos têm de prestar contas a Deus pelo seu ministério e pelas ovelhas entregues a seus cuidados (leia Hebreus 13:17).

A igreja é um rebanho e Cristo é seu grande Pastor

Vemos essa descrição tão bela em Isaías 40:11 e no Salmo 23.

É uma igreja distinta

É uma igreja distinta, santificada e separada da perversidade, das trevas e dos perigos do mundo. O nome “igreja” (ekklesia em grego) tem esse significado. A igreja não se mistura com a maldade do mundo nem compartilha seus valores (leia Atos 20:29).

A igreja vive pela Palavra de Deus

A igreja vive pela Palavra de Deus, Ela é um “pão santo”; sua comida espiritual. Com a palavra se apascenta o rebanho, e por meio dela cresce (leia Atos 20:27 e 32).

Usando os conceitos anteriores, vamos examinar a igreja que Paulo conheceu e sobre a qual nos ensinou.

A igreja como um corpo

Para Paulo, era impossível separar Cristo de sua igreja. Ele enfatizou que a igreja é o corpo de Cristo e Cristo é a cabeça do corpo. Em Efésios 5:23, Paulo diz que “Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo”. Ensinou o mesmo em Colossenses 1:18. De acordo com Colossenses 2:19, é impossível que a igreja viva sem Cristo.

O corpo consta de muitos membros. Estes membros se ajudam mutuamente e há entre eles uma interdependência. Nenhum deles diz a outro: “Não tenho necessidade de ti”. Nem tampouco um membro diz a outro: “Não sou do corpo” (1 Coríntios 12:15–21). Embora nem todos os membros tenham a mesma função, cada um contribui para a edificação mútua (leia 1 Coríntios 12:25). A relação entre os membros da igreja é tão estreita que Paulo diz no versículo 26: “De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele”. Ninguém está em Cristo por conta própria senão com o seu irmão. De onde vem a ideia de que alguém pode ser cristão sem necessidade de uma relacionamento responsável com os outros irmãos? Ter comunhão com Cristo significa ter comunhão com os irmãos. Essa é a ênfase de 1 Coríntios 10:16–17: “O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão.”

Esta relação mútua é uma comunhão realizada na assembleia local. Quando a Bíblia fala de “uns aos outros”, refere-se a algo que só pode ser levado a cabo na congregação local de cristãos. Por exemplo: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus” (Efésios 5:21). É impossível obedecer tal ordem submetendo-nos a cristãos em outros países ou continentes os quais nunca vimos nem conhecemos. Podemos obedecer esses versículos somente na assembleia local (leia Colossenses 3:9, 13 e 16).

O compromisso como o corpo de Cristo

Paulo diz que somos “membros de Cristo” e também “membros uns dos outros”. Porém, nem todos os são. A Bíblia fala dos que estão “dentro” e dos que estão “fora”. Vemos um exemplo disso em Atos 5:13-14: “Dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles; mas o povo tinha-os em grande estima. E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais.” Uns se uniam a eles, outros não. O Senhor sempre sabe onde está cada um dos seus (leia 2Timóteo 2:19). Graças à misericórdia e à graça do Senhor, novos crentes continuam chegando à igreja de Cristo (leia Atos 2:47). Porém, segundo a passagem que lemos, quem foi acrescentado?

Os que se unem ao corpo de Cristo assumem um compromisso com a igreja peregrina que pertence ao Reino Celestial. Tal como a cabeça da igreja se comprometeu com ela, assim a igreja está comprometida com Cristo. “Como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25). A salvação é gratuita, mas com um custo alto para a carne.

Cristo explicou o que custa segui-lo: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” (Mateus 16:24). “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (João 12:24). Paulo experimentou esta realidade na sua própria vida. “E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal” (2Coríntios 4:11). Paulo disse aos anciãos de Éfeso: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós” (Atos 20:31). Paulo cria na importância do compromisso com Cristo e sua igreja.

Desde a fundação da igreja, os novos crentes têm feito um pacto com Cristo e os irmãos. Em Atos 2:41, os que receberam a palavra foram batizados e se tornaram parte da igreja. No versículo 42, continua dizendo: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. Esse pacto entre si era notável no mundo onde estavam.

Para fazer parte desse reino, tem que estar disposto a comprometer-se com Cristo e sua igreja. Quem está disposto a fazê-lo?

O batismo: a naturalização no reino

Talvez, você se pergunte: Como posso me tornar membro da igreja de Cristo? O que deve ser feito? O próprio Paulo se fez essa pergunta quando se encontrou com Jesus no caminho de Damasco. “Senhor, que queres que eu faça?” Deus lhe respondeu: “Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.” Três dias depois, veio a ele um discípulo chamado Ananias. Ele explicou a Paulo o propósito e o significado de ser chamado por Jesus. Depois, disse-lhe: “E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor” (Atos 22:16). Paulo foi obediente à visão celestial, recebeu o batismo e foi cheio do Espírito Santo. Assim começou o apóstolo a sua peregrinação, ministrando aos gentios e demonstrando o compromisso que tinha com Jesus e com os irmãos em Cristo.

Este mesmo Paulo que ensinou que a igreja de Cristo é o corpo de Cristo também escreveu o seguinte: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1Coríntios 12:13). Talvez, alguém dirá: “Sim, mas esse versículo fala do batismo do Espírito Santo, e não, do batismo na água.” Tudo bem, mas a Bíblia diz que o batismo (na água) “vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo” (1Pedro 3:21). O coração do homem clama com o desejo de garantir a sua identificação com a morte e com a ressureição de Jesus. Isto é exatamente o que o batismo significa. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Romanos 6:3-4). Isto concorda com o que diz Gálatas 3:27: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.” No batismo há um “antes” e um “depois”, o que éramos antes dele e o que somos agora depois dele. É a transferência de um reino para outro (leia Colossenses 1:13). Antes tudo era para mim, agora tudo é para Ele. Antes a carne reinava na minha vida, agora Cristo reina no coração como soberano.

Notamos no livro de Atos que a consciência apelava para o batismo com água. Nesse livro, tanto os evangelistas quanto as outras pessoas que se converteram sentiram a necessidade do batismo. “Arrependei-vos e batizai-vos” eram as instruções divinas para os que perguntavam: “O que faremos?” Desde o dia de Pentecostes em diante, há nove exemplos de pessoas que obedeceram esse mandamento. Para eles, esse passo significava uma identificação e um compromisso drástico e específico. Sua decisão de se batizar mudou a sua vida por completo.

No entanto, alguns ainda creem que o batismo é a entrada à “igreja invisível universal” e não a entrada a uma irmandade visível e local. Por que creem assim? Há vários fatores que causam incerteza sobre esse assunto.

Um deles já vimos; a distinção entre o batismo com o Espírito e o batismo com água. Alguns, por exemplo, opinam que Romanos capítulo 6 trata apenas do batismo com o Espírito Santo e não diz nada a respeito da cerimônia de entrada na igreja, apesar de ser um capítulo chave sobre o batismo. É certo que, fora da obra do Espírito Santo na vida pessoal, nenhuma quantidade de água pode tornar alguém uma nova criatura. O novo nascimento é uma experiência espiritual. Porém, Jesus disse: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”(João 3:5). O arrependimento e a fé têm de anteceder o ato mesmo do batismo (leia Marcos 16:16; Atos 8:37; Atos 2:38). Contudo, o sinal externo dessa obra de fé é a ação que se executa logo após tomar a decisão de se identificar com Cristo e a sua igreja, isto é, o batismo.

Outro fator que contribui para a diferença de opinião quanto ao batismo com água provém de alguns exemplos dos quais temos referências no Novo Testamento. É como se em alguns casos, por exemplo, como o do eunuco, o batismo fosse uma identificação com Cristo e a igreja universal em invés de ser uma identificação com alguma congregação local. Por isso surge a 8pergunta: Em qual congregação local foram batizados os judeus piedosos que entregaram a sua vida ao Senhor durante o tempo da dispersão mencionada em Atos capítulo 2?

Além disso, mais uma razão para este desacordo são os escritos da igreja primitiva após o Novo Testamento. Nesse caso, encontramos muitas diferenças com relação aos ensinamentos. Uns afirmavam que nem sequer havia perdão de pecados sem o batismo com água, isto é, o batismo devia ser realizado imediatamente após a conversão. Outro escreveu que devíamos receber instrução (catecismo) por três anos antes de sermos batizados e recebidos como membros da igreja. Com tanta divergência com relação a esses escritos, é fácil entender a razão por que há diferenças de opinião hoje em dia.

A seguir, analisaremos algumas razões pelas quais devemos crer que o batismo é uma cerimônia de entrada na igreja (congregação) local.

A Bíblia não indica outra “porta” de entrada. Tampouco menciona em momento algum que, após o batismo, seja necessário pedir para se tornar membro da congregação. Não menciona nada sobre uma suposta confirmação daqueles que já foram batizados. Os reconhecidos como parte do “número” dos discípulos eram aqueles que já haviam sido batizados.

A igreja recebeu autoridade para batizar e isto vem do Senhor da igreja (leia Mateus 28:19). Quando a igreja celebra as suas ordenanças solenes (a ceia do Senhor, a unção com óleo, o contribuir e a excomunhão, entre outras), tais atos são realizados na congregação local. Por que, então, não deve ser igual com respeito ao batismo?

Por meio do batismo, nos identificamos com Cristo e com o seu corpo pela assembleia local. Os irmãos, as ordenanças, a manifestação dos dons, a ajuda mútua, a disciplina e a função dos servos acontecem na congregação visível. Para isso, a pessoa deve fazer a sua “entrada”.

O batismo é a entrada da igreja e a excomunhão a saída dela. As duas ações são oficiadas pela irmandade local e espiritual. A igreja tem poder para ligar e desligar, remeter ou de reter (leia Mateus 18:18). Esta autoridade se encontra na congregação local.

Que tipo de cristão será aquele que quer se identificar com Cristo, mas não quer dar satisfações aos irmãos espirituais? Por que iria querer ser reconhecido como um cristão “batizado” sem fazer parte do corpo visível de Cristo? Por que não iria querer ter uma relação responsável com uma irmandade bíblica?

Os exemplos presentes no livro de Atos quanto ao batismo são uma evidencia clara que ditos cristãos se uniram a uma congregação local, embora fossem casos onde não havia uma assembleia local. A fé era nova… o evangelho estava começando a sua marcha “até a consumação dos séculos”. É claro que havia uma diferença entre o caso do eunuco a caminho da Etiópia, onde provavelmente havia uma igreja, e o caso dos coríntios citados em Atos 18:8. Provavelmente, esses se uniram depois ou foram o início da congregação local em Coríntio.

A irmandade bíblica só pode ser sentida no contexto de uma igreja local. Se alguém é “irmão”, tem que ter “irmãos”.

Estes são os conceitos ensinados pelo apóstolo Paulo a nós. Desejamos que cada leitor, cada cristão sincero, cada alma sedenta que hoje está procurando o Senhor possa encontrar uma irmandade cristã na qual possa participar da comunhão e do testemunho de tal assembleia, a ekklesia, a igreja de Cristo, e assim, fazer parte sua “luz de justiça” neste mundo escuro.

 

Detalhes
Idioma
Portuguese
Autor
Eugenio Heisey
Editora
Editora Monte Sião
Temas

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