A Srta. Wilma estava pensativa. Não sabia se encerrava a reunião ou se tocava em mais um assunto. As moças iriam prestar atenção?
A Srta. Wilma estava pensativa. Não sabia se encerrava a reunião ou se tocava em mais um assunto. As moças iriam prestar atenção? E se prestassem, daria algum resultado? Era difícil saber, pois estas moças já haviam ouvido muitas palestras sobre modéstia. E se rissem? Ela resolveu: já que tem visita aqui esta noite, vou deixar para a próxima reunião.
Olhando para as moças, disse:
— Bem gente, acho… acho que vamos… que vamos encerrar…
Sua consciência estava pesada. Continuou:
— … a não ser que alguém tenha mais alguma coisa a dizer.
As próprias moças se mostraram surpresas. Por que encerrar uma reunião às 20h 30min? Mas ninguém disse nada.
Depois de um pequeno silêncio, uma visitante levantou. Perguntou:
— Srta. Wilma, eu poderia falar um pouco?
— Pode sim.
— É possível que eu fale uns 15 minutos. Tem problema?
— Tem não. Pode falar 20 minutos se quiser.
Olhando para as meninas, ela disse:
— Gente, vamos todas prestar atenção naquilo que a Srta. Edite tem a dizer.
Foi isto que a Srta. Edite disse:
Estou feliz porque Deus me concedeu esta oportunidade de falar com vocês. Quando resolvi passar uma semana com a sua colega, Helena, não sabia que teria este privilégio.
Quando Wilma resolveu encerrar esta reunião, achei que ainda estivesse faltando alguma coisa, isto é, alguns pensamentos sobre traje modesto como um sinal exterior de pureza interior.
Talvez eu pense mais neste assunto do que muitas outras moças, porque fui obrigada a aprender uma lição dura na escola da vida. Vocês meninas não precisam passar por esta mesma escola, se souberem aproveitar a minha experiência.
Meninas, me perdoem se acabo sendo muito franca, mas não é do meu feitio fazer uma palestra toda cheia de flores. O que me interessa é ajudar a salvar moças que caíram nas garras de Satanás.
Esta é a minha história:
Quando eu ainda era bem nova, meu pai morreu. Minha mãe fez o possível para encaminhar suas quatro filhas no rumo certo, mas não teve condições. Uma por uma fomos saindo de casa para ir morar com vizinhos e parentes. Algumas tiveram sorte e outras não. A influência maléfica do mundo começou a nos desviar do caminho. Eu, pessoal mente, desviei totalmente. Quando eu estava com 15 anos de idade…bem, como se diz… já fazia de tudo.
Vocês devem saber que as duas coisas que têm provocado a queda de muitos homens são as mulheres e as bebidas. No meu caso, eu caí por causa de homens e bebidas.
Por incrível que pareça, depois de cair nestas profundezas do pecado, acordei. Mas não sabia o que fazer. Não conhecia a Deus. Minhas amigas também não o conheciam. Não vendo saída, comecei a beber cada vez mais.
Um dia fui achada por uma mulher cristã. Estava inconsciente, jogada na sujeira de uma rua escura. Ela me levou para sua casa e cuidou de mim até ficar boa novamente. E melhor, me ajudou a conhecer a Jesus como Salvador. Como amo aquela mulher!
Bem, vocês podem estranhar eu contar uma história tão vergonhosa e triste. Mas, é preciso que conheçam o meu passado para entender o que vou dizer agora.
Quando eu me converti, foi por dentro e por fora. O meu passado pecaminoso me ajudou – embora não recomendo uma vida dessas para ninguém – a enxergar algumas coisas que meninas inocentes como vocês não costumam entender. Mostrou-me o grande perigo de parecer com o mundo por fora e por dentro tentar ser cristã.
Eu sei que algumas de vocês não estão gostando do que estou dizendo, mas pela experiência sei que estou falando a pura verdade. Que Deus lhes poupe da necessidade de passar pela escola da vida que eu conheci.
Para vocês que ainda estão achando que eu estou exagerando, vou contar outra história – também da minha vida.
Como eu já disse, a minha conversão foi por dentro e por fora. Uns poucos dias depois de receber a paz de Deus no meu coração, tirei todas as roupas do meu guarda-roupa: vestido de baile, vestidos sem mangas, cosméticos, em fim, tudo que não convinha a uma cristã, e joguei no lixo. Assim que podia, fui comprando outras roupas modestas que combinavam com meu espírito interior.
O resultado foi ótimo. Durante alguns meses eu tive uma vida feliz. Então uma noite fui visitar uma das minhas amigas da vida antiga num outro bairro da cidade. Ela não sabia da minha conversão. Quando me viu, exclamou:
— Uai Edite! O que houve com você? Voltou ao século passado? Os estilistas de Paris estão voltando à arca de Noé para tirar suas ideias agora?
Ela soltou umas gargalhadas e foi reparando nas minhas mangas compridas. Então olhou a minha saia.
— Cuidado, Edite, para não pisar na barra de sua saia, viu menina!
Minha amiga continuou balançando a cabeça. Perguntou:
— Ó Edite, como é que não vi a sua cabeça antes? Aquele negócio que você está usando é o quê? É véu de casamento? Ó menina, cadê o noivo?
Foi assim o tempo todo. E não resisti. Antes de ir embora, troquei de roupa. Vesti uma roupa escandalosa dela. Tirei o véu e fiz um penteado bem assanhado, como usava antes da minha conversão. Quando olhei no espelho, gostei – e fiquei com medo. Minha amiga me disse:
— Pronto! Agora você perdeu seu visual do século passado.
“É”, pensei, “e perdi a minha paz também”.
Minha amiga agora me passou um sabão:
— Nunca mais quero te ver com aquelas roupas horrorosas.
Pegando o meu véu, disse:
— Bem, isto eu já vou jogar no fogo.
— Por favor — disse com voz fraca. Tirei o véu da mão dela e o coloquei em minha bolsa, pois não ficaria bem na minha cabeça agora. — Vou levar o véu para casa.
Saí e andei uns poucos quarteirões para pegar o ônibus. Mais adiante tive que saltar, andar três quarteirões e pegar outro ônibus. Já era quase meia-noite. A rua estava bastante escura e por dentro eu estava muito agitada. Do jeito que estava, não conseguia orar. Senti-me como uma criancinha perdida no meio de uma grande cidade.
Havia andado apenas um quarteirão quando ouvi alguém dizer:
— Oi!
Fiquei assustadíssima. Era um homem – um homem totalmente estranho. E agora? Não respondi. Comecei a andar mais depressa. No fim estava quase correndo. Cheguei no próximo ponto de ônibus sem fôlego.
“Quase!” eu exclamei por dentro. “Que será que estou fazendo aqui na rua a estas horas da noite?”
Tentei orar: “Ó Deus, por favor, me ajuda a chegar em casa e nunca mais vou fazer uma coisa dessas.
Tenho a certeza de que Deus ouviu a minha oração. Para falar a verdade, não sei por que ele me ouviu – depois de uma noite dessas. Mas sei que ele me ouviu, caso contrário não estaria aqui esta noite para contar a minha história para vocês.
Enquanto esperava o ônibus passar, entrei numa banca de revistas e comecei a folhear uma revista.
De repente alguém pôs a mão em meu ombro.
— Com pressa, heim?
Era a mesma voz que ouvira na rua.
— Mas te alcancei!
Meu coração estava a cento e vinte por hora. O homem da banca não estava neste instante. Desta vez parecia que não teria saída.
“Ó Deus”, eu roguei, “me ajuda ou estou perdida!” Mas por que ele iria me ajudar? Por que esperar que ele me ajudasse? Não devia nem ter coragem de pedir alguma coisa dele. Fui folheando a revista, fazendo de conta que eu não o via. Mas ele estava vendo tudo. Perguntou:
— Gostou da revista? Se quiser, compro para você.
— Obrigada — eu disse bem seca. Para falar a verdade, não tinha o mínimo de interesse na revista. Nem me lembro qual a revista que era. Era só para disfarçar. O estranho me perguntou:
— Você está esperando o ônibus que vai ao bairro Lake Court?
E eu, boba, disse que sim.
— Então para que esperar o ônibus chegar? Vamos no meu carro. Está logo depois desta esquina. Vamos.
De repente eu perdi o meu medo. Disse:
— Olhe aqui. Você acha que eu nasci ontem? Acha que vou morder a sua isca? Preste bem atenção! Eu já entrei na conversa de gente como você muitas vezes, às vezes porque eu queria e às vezes porque não via outra saída. Hoje, graças a Deus, nenhuma das duas coisas acontecerá. Eu não sou escrava mais de homens como você, porque…porque…
Olhei para minha roupa e sabia que o homem não iria entender o que estava dizendo. Completei:
— …porque agora eu sou cristã.
— O quê? Cristã? Você é cristã?
Ele me olhou dos pés à cabeça.
— Engraçado, eu nunca teria adivinhado que você é cristã.
Embora fosse a pura verdade, suas palavras me machucaram e tentei me defender. Retruquei:
— Você por acaso entende alguma coisa sobre cristãos?
— Sei muito pouco. Mas uma coisa sei. Minha mãe era cristã e ela não se vestia como as mulheres da vida… bem, digamos assim, do mundo.
Ainda queria me defender, dizer que minha vida havia mudado, mas sabia que não iria adiantar.
Ele agora afastou-se um pouco de mim – pois estivera perto demais – e disse:
— Se você é cristã, retiro o que disse. Desculpe tê-la incomodado. Mas, antes de nos despedirmos, aceitaria uns poucos conselhos de um homem que entende do mundo?
Sem esperar a minha resposta, continuou:
— Homens como eu saímos procurando mulheres em lugares como este, em horários como este, e vestidas com roupas como as suas. Quando eu escolho uma mulher, não costumo errar… aliás, desta vez não sei se o erro é meu ou seu.
Eu já estava mais calma de novo. Disse-lhe:
— Eu já aprendi uma grande lição. Você teve toda razão em me julgar como uma mulher vulgar. No futuro vou fazer o possível para me vestir de acordo com aquilo que há em meu coração.
Com voz grave o homem me disse:
— O certo é isso. Caso contrário, não será respeitada pelos homens.
Ele virou para ir embora, quando lembrou de outra coisa.
— Mais um conselho. Fique firme em sua religião. É a única coisa que pode manter as pessoas no caminho certo. Há muito tempo eu também era cristão – durante pouco tempo – mas perdi tudo. Eu sei do que estou falando. Sei que você também vai perder tudo, a não ser que mude a sua vida.
Eu lhe disse:
— Eu sei do que está falando. E pode ter a certeza de uma coisa. Nesta noite ainda a minha vida vai mudar. Se por acaso algum dia você me ver de novo, minha aparência será outra.
Sua resposta estava carregada de verdade:
— Nós homens seríamos bem diferentes se todas as mulheres pensassem assim. Bem, chegou seu ônibus. Vai com Deus. Boa noite.
Eu gritei:
— Boa noite… E obrigada pelos conselhos.
Baixinho disse: “Obrigada, Deus, pelos conselhos que tu me deste. Sei que são de grande proveito para mim.
Meninas, esta é a minha história. Eu fui fiel àquela promessa, e passei a crescer espiritualmente. Repasso este acontecimento triste a vocês para que aprendam da minha vida, para não passarem pelo que eu passei.
Edite sentou-se ao lado de uma menina que se chamava Helena. Esta se levantou e dirigindo-se à Srta. Wilma, disse:
— Srta. Wilma e colegas aqui presentes. Tenho algo a dizer antes de encerrar esta reunião. Se eu soubesse o que a Srta. Edite iria dizer aqui esta noite, não teria vindo. Mas graças a Deus, não sabia. Eu já havia tomado uma decisão: iria abandonar a vida cristã e fazer parte do mundo. Queria me divertir. Como vocês todas sabem, ultimamente eu não tenho andado muito animada. Mas agora, depois de ouvir a história dela, cheguei à conclusão de que a gente paga caro demais para viver no mundo.
A Srta. Wilson enxugou seus olhos e disse:
— Helena, fico tão feliz de ouvir seu testemunho. É uma resposta às minhas orações.
Então olhando as demais meninas, perguntou:
— Meninas, quantas de vocês também concordam que viver no mundo sai caro demais?
Todas levantaram a mão.
Depois de terminar a reunião, a Srta. Vilma pegou na mão de Edite. Disse:
— Muito obrigada, Edite. Nunca tivemos uma reunião melhor do que esta. Você conseguiu comunicar uma verdade para estas meninas que eu não tive condições – nem coragem – de fazer. Mais uma vez, obrigada.
— Por nada. Fico feliz se as minhas poucas palavras ajudaram em alguma coisa. Se eu conseguir socorrer apenas uma destas meninas, para não ter que frequentar a escola que eu frequentei, serei das mas felizes. Alguns acham que as meninas devem aprender pela experiência que o mundo não presta, mas pensando em meu caso, tenho que afirmar que o preço desta experiência é muito alto.