Quando falece um ente querido

A morte de um ente querido pode nos deixar devastados, confusos, irados e exaustos. Isso pode gerar perguntas com as quais jamais nos deparamos:

Para onde vão nossos amados ao morrerem?
Conseguem ver nossa vida aqui?
Nós os veremos novamente?
Todos vão para o céu?
Como eu faço para chegar lá?
Preciso me sentir culpado por não ter feito mais antes de meu ente querido morrer?

A grande pergunta

As perguntas que agitam nossa mente quando alguém morre podem nos fazer sentir desarmados. Algumas perguntas são muito práticas. Algumas parecem não ter respostas. Todas as perguntas que nos inundam nessa época apontam à realidade de que a morte em si é uma grande pergunta para nós.

Com a vida, podemos planejar. Podemos sonhar. Podemos mudar de rumo. Podemos aprender. Sabemos o que queremos fazer e o que não queremos fazer. Temos opções.

A morte interrompe tudo isso. É o fim dos planos, da comunicação, das escolhas. Olhamos para o rosto de um ente querido que morreu e não há resposta. Não há reconhecimento. Não há sorriso. Não há suavidade nos olhos. Nem mesmo um piscar. Em resposta às milhares de perguntas que inquietam nossa mente, só há silêncio.

Ó morte! Quem é você? O que você fez ao meu ente querido? Onde você o levou? Ele ainda vive por trás, acima e além da imobilidade de seu corpo?

A morte é uma pergunta ponderável. Não há resposta satisfatória de qualquer homem ou mulher vivente, quer filósofo ou poeta, místico ou realista.

Felizmente, nosso Criador não é silente quanto à morte. Deus falou claramente, e se ouvirmos o que ele diz, nosso coração poderá achar conforto e grande segurança.

A resposta

De acordo com a Palavra de Deus, a morte é o resultado do pecado. “Porque o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). Pelo pecado original de Adão e Eva, todas as pessoas nascem mortais, sujeitas à enfermidade e morte. “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12).

As boas-novas são que aqueles que creem em Jesus são salvos do pecado e do poder da morte em si. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 6:23). Quando Lázaro morreu, Jesus disse à sua irmã enlutada: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11:25).

Aqueles que creem em Jesus não precisam mais temer a morte física porque sabem que isso os leva desta vida para outra melhor com Jesus. Isso se cumpre por meio da obra de Cristo. “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hebreus 2:14, 15).

Por meio da fé em Jesus, temos uma resposta à questão da morte. Sabemos que a morte é o resultado do pecado. Sabemos que se cremos em Jesus, a morte será a porta de entrada para a vida eterna; portanto, não precisamos mais temer a morte.

A esperança dos crentes

O conforto que podemos ter quando um ente querido se vai vem da vida e obra de Jesus em nosso nome. Eis as palavras confortadoras para aqueles que confiam na obra de Jesus por eles.

  1. Aqueles que creem em Jesus como seu Salvador e obedecem-lhe como Senhor passarão a eternidade com ele.
    “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também” (João 14:1-3).
  2. Aqueles que morrem “no Senhor” serão ressuscitados quando Jesus voltar.
    “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:16, 17).
  3. Na ressurreição, os fiéis receberão um novo corpo.
    “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Filipenses 3:20, 21).
  4. Os fiéis que morrem entram num descanso de seus empreendimentos terrenais.
    “Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem” (Apocalipse 14:13). “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hebreus 4:9).
  5. No céu, não haverá mais dor ou enfermidade.
    Qualquer que seja o desconforto ou provação que um fiel experimentar na vida, isso não será experimentado no céu. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4).

Essas preciosas promessas são para aqueles que creem em Jesus e o obedecem como seu Senhor e Salvador. Aceitas em conjunto, elas compõem o que chamamos de “esperança” de todos os crentes — a expectativa de estar para sempre com o Senhor no céu. Essa esperança não é uma incerteza casual — como se “esperássemos” por um dia bom, mas não soubéssemos que o teríamos. Em vez disso, a esperança dos crentes é baseada nas promessas de Deus, que são tão certas e confiáveis como o próprio Deus.

Quando o escritor aos Hebreus relata sobre a esperança que Deus colocou diante de nós, ele nos garante que é algo na qual podemos contar com toda a certeza. “A qual temos como âncora da alma, segura e firme” (Hebreus 6:19). Ele diz que a certeza de nossa expectativa reside na realidade de que “é impossível que Deus minta” (v. 18).

O que a morte nos ensina

No livro de Eclesiastes, lemos que a morte pode ter um bom efeito sobre aqueles que são deixados para trás. “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração” (7:2).

Trata-se de um grande paradoxo. Como pode algo tão doloroso e confuso ser bom para nós?

  1. A morte nos ensina que a vida é curta. A Bíblia descreve a vida como um “vapor”, como uma “flor”, como uma “sombra”, e como uma “erva”. Mesmo se alguém tiver uma vida “longa”, ao olharmos para trás, ela é impressionantemente curta (Tiago 4:14, Jó 8:9). Certamente, quando a vida é cortada na fase de bebê, na infância, na juventude, até mesmo na meia idade, sofremos com a brevidade da vida.
  2. A morte nos ensina o que é verdadeiramente importante na vida. Quando um ente querido morre, percebemos que muitas coisas pelas quais trabalhamos são passageiras e não são realmente tão importantes quanto geralmente pensamos — casas, roupas, dinheiro e posses são passageiros e significam quase nada em comparação com a vida, relações, legado, um bom nome e o amor.
  3. A morte nos ensina que a vida é algo sério. Só temos uma vida. O modo como a vivemos é o modo pelo qual seremos lembrados. Não é errado desfrutar a vida, mas é sábio pensar sobriamente sobre nossas escolhas, sobre nossas atitudes, sobre nossas crenças fundamentais, e sobre o que estamos fazendo e o porquê. Não há retrocesso na vida. Não podemos fazer um test-drive e, em seguida, decidir refazê-la. A vida é real (Eclesiastes 11:9).
  4. A morte nos ensina que a vida é preparação. Na vida, estamos indo a algum lugar. Algum dia, estaremos para sempre com o Senhor ou estaremos para sempre separados dele. A vida é o saguão da eternidade. Atualmente, nós, os que somos deixados para trás, estamos nos movendo em direção ao céu ou ao inferno. O tempo é a preparação para a eternidade. É por isso que o escritor de Eclesiastes declarou: “Os vivos o aplicam ao seu coração” (Eclesiastes 7:2).
  5. A morte nos ensina a tirar o máximo proveito das oportunidades. Temos este momento para viver. As pessoas e situações ao nosso redor nos proporcionam oportunidades para demonstrar bondade, oferecer encorajamento, ajudar e abençoar — para fazer todas as coisas que quisermos ter feito quando chegar nossa vez de morrer. Esse é o nosso momento. Esse é o nosso lugar. Essas são as nossas pessoas.

Embora nem sempre percebamos que a morte nos está ensinando algo, ela realmente está. Boas coisas podem acontecer em nosso coração, mesmo quando estamos chorando, mesmo quando buscamos pela última vez no rosto de alguém que amamos profundamente, mesmo quando temos recordações com profunda dor. Os vivos realmente “o aplicam ao seu coração”.

Superando a dor

O luto é algo difícil de se lidar. Certamente, depende do grau de intimidade que tínhamos com quem morreu e de como era o relacionamento antes da morte. O luto também pode ser afetado pelo modo como nosso ente querido morreu — se a morte foi repentina ou esperada, se foi tranquila ou dolorosa e pela causa da morte.

Não há fórmulas para tornar a dor algo fácil de suportar, e não há duas pessoas que experimentem o luto exatamente da mesma maneira. No entanto, há alguns indicadores práticos que geralmente se aplicam às pessoas que sofrem com o luto.

  1. Solte as emoções e chore. Os sentimentos podem parecer nos assustar, mas não é bom internalizar a dor o tempo inteiro. Chorar faz bem; o choro é o modo que Deus criou para liberar nossa dor. Algumas pessoas preferem chorar em particular, e outros acham mais fácil chorar com alguém mais presente.
  2. Aceite a realidade da perda. Às vezes, parece mais fácil evitar a realidade, proteger nossa mente e nossos sentimentos da verdade da perda. Isso somente enterra o problema, gerando uma oportunidade para infiltrá-lo como resíduo tóxico, por assim dizer, em nossa vida. Maneiras práticas de aceitar a realidade da morte incluem ver o corpo, participar do funeral, estar presente no enterro, visitar o local da morte e criar memoriais.
  3. Fale sobre a morte de seu ente querido. Essa é uma grande maneira de aceitar a realidade (ver o item 2 acima). Falar sobre nosso ente querido e, às vezes, recordar o passado em momentos apropriados, ajuda-nos a processar nosso luto. Recordar não nos conecta apenas ao passado, mas também nos ajuda a olhar adiante e ajustar-nos mentalmente a como as coisas serão diferentes no futuro. Obviamente, não deveríamos falar demais. Até mesmo no luto, devemos ser capazes de pensar nos outros. Mas falar ajuda a processar a perda.
  4. Dê-se intervalos. Às vezes, a intensidade do luto tem um efeito paralisante, não somente no luto inicial, mas também nas semanas e meses que se seguem. Precisamos de momentos de escape. Escapar a fim de evitar a realidade não é saudável, mas se voltarmos mais bem preparados para enfrentar a vida como ela é, os momentos de escape podem ser muito proveitosos.
  5. Busque meios de ajudar. O luto pode nos deixar sentindo indefesos. Há muito que não podemos fazer. Ajudar os outros é um meio de fazer algo que conseguimos compreender em momentos de confusão. Podemos conseguir ajudar aqueles que estão em um luto mais intenso que o nosso — proporcionando refeições, limpando, realizando incumbências, cumprindo com suas responsabilidades, etc. Ou, podemos buscar oportunidades para ajudar outros que não sabem nada sobre nosso luto — dando, motivando, visitando e atuando como voluntários. Essas atividades não devem ser buscadas como meio de bloquear nosso luto, e sim, como um ministério em amor.
  6. Cuide de si mesmo. Às vezes, a morte de um ente querido nos deixa sentindo como se a vida praticamente não valesse a pena ser vivida. Podemos perder o desejo de cuidar de nós mesmos. Quando a alma sofre, é necessário cuidar tanto do corpo quanto da alma. Obter um descanso devido, fazer refeições nutritivas, exercitar-se e seguir uma agenda controlável pode trazer ordem e um senso de bem-estar enquanto a alma está sendo restaurada.
  7. Interaja com o povo de Deus. Em momentos de luto profundo, podemos nos sentir levados à reclusão — a interação pode parecer muito assustadora ou pode parecer que é preciso muito esforço. Às vezes, precisamos realmente estar sozinhos, mas viver em reclusão, na verdade, aumenta nossa dor. Deus nos planejou para encontrar refúgio na comunidade e ser abençoados pelo conforto dos amigos.
  8. Cultive a confiança. Durante a luta intensa, podemos começar a duvidar de Deus. É normal que as perguntas do tipo “por quê” ressoem em nossa mente, mas também é perigoso demorar-nos nelas. Por que comigo? Por que agora? Por que dessa maneira? Quando somos tentados a perguntar por que, não há problema em direcionar nossas perguntas a Deus, mas é ainda melhor quando também podemos expressar nossa confiança. “Deus, eu não sei porque o Senhor levou meu ente querido, mas creio que Tu sabes o que fazes. E confiarei que Tu estás andando comigo!”

Por fim, nossa cura do luto vem somente do Senhor. Jesus foi conhecido como um “homem de dores, e experimentado nos sofrimentos” (Isaías 53:3). Ele sabe o que é passar por um sofrimento profundo. Mal podemos imaginar a angústia do Pai Celeste quando seu Filho foi torturado e pendurado numa cruz para morrer. Ainda assim, ele permitiu que a morte de seu Filho nos proporcionasse a esperança da ressurreição e vida eterna.

Superar o luto envolve um relacionamento muito íntimo com Deus, permitindo-lhe restaurar nossas almas e aprender dele os propósitos que ele tem para nosso bem, mesmo em meio ao sofrimento.

Um testemunho soal

Joseph Scriven era um jovem que se preparava para se casar. Apenas semanas antes do casamento, sua jovem e futura esposa caminhava de volta para casa. Tropeçou, caiu e ficou inconsciente. Infelizmente, sua cabeça descansou em uma poça d’água e ela se afogou.

Joseph estava inconsolável. Por fim, mudou-se para o Canadá, onde passava o tempo ajudando jovens com problemas. Durante a recuperação de seu luto, Joseph escreveu as palavras de um dos hinos mais conhecidos de nossos dias.

Em Jesus amigo temos, mais chegado que um irmão.
Ele manda que levemos, tudo a Deus em oração.
Oh! Que paz perdemos sempre.
Oh! Que dor no coração.
Só porque nós não levamos, tudo a Deus em oração.

Realmente, há cura e recuperação do luto, e nosso sentimento mais profundo de conforto vem à medida que aprendemos a levar nossas dores ao Senhor.

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” (2 Coríntios 1:3, 4).

Details
Language
Portuguese
Number of Pages
20
Author
John Coblentz
Publisher
Editora Monte Sião
Topics

Back to List